Você sabe utilizar o book de ofertas em seu trading?

Até o final do ano de 2005, as negociações no mercado financeiro brasileiro eram bem diferentes do que conhecemos hoje. Em setembro de 2005, houve o último pregão viva-voz da até então chamada BOVESPA, Bolsa de Valores de São Paulo (a BM&F ficou mais alguns anos no pregão viva-voz). Desde então, as negociações passaram a ser realizadas via pregão eletrônico.

No pregão viva-voz, os negócios eram fechados “no grito”. Um operador dizia em voz alta o ativo que desejava comprar ou vender e a quantidade. Outro operador, com interesse contrário, concluía o negócio com um alto e claro “fechado!”.

Cada vez que um operador se pronunciava com sua intenção de compra ou venda, ele fazia uma oferta. Quando houve a migração para o pregão eletrônico, essas ofertas ficaram consolidadas em uma ferramenta chamada book de ofertas. Este reúne e organiza, em ordem cronológica, as ofertas dos agentes de mercado em todos os ativos listados.

 

Figura 1 – Book de ofertas da plataforma Profit Pro, da Nelógica

Como funciona o book de ofertas no Brasil?

No Brasil, temos a informação dos players (instituições financeiras autorizadas a operar em Bolsa) que realizam ofertas e negócios. Em outros países, como nos Estados Unidos, o agente não é conhecido. Fica disponível somente a quantidade e o preço da oferta. Podemos acessar o book de ofertas em várias plataformas operacionais, como:

Como podemos ver na Figura 1, temos várias colunas indicando informações distintas. De início, do lado esquerdo, em azul, temos as ofertas de compra. Já no lado direito, em vermelho, as ofertas de venda. Em seguida, dentro de cada seção (compra ou venda), temos:

  • a informação do horário de envio da ordem;
  • o agente que o fez;
  • a quantidade ofertada;
  • o preço de intenção de realizar o negócio.

Essas ordens são primeiramente decrescentes para ofertas compradoras e crescentes para ofertas vendedoras. Para colocá-las em um mesmo nível de preço, é realizada uma ordenação cronológica. Dessa forma, quem apregoou (termo usado para a ação de enviar uma ordem de compra ou venda) primeiro tem prioridade.

É importante ainda ressaltar algo essencial. Se você apregoou 100 ações de uma certa empresa, estará na fila (em ordem cronológica) do livro de ofertas. Entretanto, se você aumentar a sua oferta para 200 ações, por exemplo, irá para o final da fila. Se o oposto ocorrer, isto é, você diminuir sua oferta, não será alterada sua posição na fila do book de ofertas.

Mas, enfim, por que devo prestar atenção no book de ofertas?

Alguns ativos não possuem muita liquidez para serem operados. Por exemplo, algumas ações, derivativos (contratos futuros, opções, entre outros) e fundos de investimento imobiliário.

Dessa forma, se você for comprar ou vender a mercado, estará agredindo o book de ofertas. Se você comprar a mercado, terá como contraparte a melhor oferta de venda, e vice-versa.

Porém, se o ativo não for líquido, o spread pode ser grande. O spread, aliás, é a diferença entre a melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda. Assim, você pagará mais caro do que deseja. Nesses casos, vale a pena apregoar a ordem para um preço que considere justo e aguardar se há contraparte interessada neste nível de preço.

Figura 2 – Exemplo de ativo com baixa liquidez. Imagem de Profit Pro – Nelógica

Vamos analisar o book de ofertas da Figura 2, correspondente ao Fundo de Investimento Imobiliário HGPO11. Nele, podemos observar que o spread está em R$ 1,37. Entretanto, as ordens no topo da fila são pequenas. Ao enviar uma ordem a mercado, deslocará o preço executando várias ordens de níveis de preço diferentes.

Por exemplo, caso queira enviar uma ordem de 100 cotas desse fundo. Nessa situação, você executa ordens a R$ 260,49, R$ 260,50, R$ 260,97 e R$ 260,98. Nesse caso, o spread final foi de R$ 1,86.

Quando você apregoar a ordem no preço justo, esperará alguém com interesse oposto também considerar um preço aceitável e executar sua ordem. Além disso, alguns ativos possuem robôs arbitradores que, ao identificar uma ordem dentro do seu parâmetro, executam-na.

Por isso, não há necessidade de comprar ou vender a mercado em ativos com uma liquidez maior. Você acaba correndo o risco de pagar mais caro (ou vender mais barato) do que deseja.

Livro Consolidado

Em algumas plataformas operacionais, como Profit Pro, há outras maneiras de observar as ofertas, como o Livro Consolidado (ou livro de preços):

Figura 3 – Livro Consolidado. Imagem de Profit Pro – Nelógica

Nessa variação do book de ofertas, a ferramenta agrupa todas as ordens registradas em um mesmo nível de preço. Além disso, mostra o resultado da quantidade ofertada. Na Figura 3, podemos observar, por exemplo, que existem 46.800 ações apregoadas à venda por R$ 27,51.

São várias ordens diferentes, de vários agentes, que somadas dão esse resultado. Essa ferramenta é interessante para observarmos níveis de preço com alta liquidez, ou seja, maior interesse de compra ou venda. Geralmente, essas regiões possuem maior negociação e maior defesa

Embora seja importante utilizar o book de ofertas para operações em ativos com menor liquidez, nem todos investidores o farão. No caso de operações de longo prazo, o foco da análise consiste nos fundamentos dos ativos. Movimentos de curto prazo por vezes não são relevantes.

Já quem opera intraday (day trade) e até mesmo swing trade pode achar útil o uso da ferramenta. Para quem usa a análise de fluxo, o book de ofertas é indispensável.

Pegadinhas no book de ofertas

Existem algumas situações que, pelo número de ocorrências que vemos no dia a dia do mercado financeiro, merecem nossa atenção. A primeira delas é o “lote escondido”, ou ordem iceberg. Essa prática consiste em esconder a quantidade total de papéis ou contratos que um agente deseja negociar em certo ativo.

Para isso, suponha que alguém queira comprar 500.000 ações de PETR4, por exemplo. Comprar a mercado deslocaria o preço, e a pessoa acabaria pagando mais caro do que precisa. Por essa razão, o agente decide apregoar a ordem.

Entretanto, uma quantidade relevante como essa chamaria a atenção. Para isso, o comprador apregoa várias ordens menores e, conforme são executadas, renova-as. Com isso, “disfarça” sua intenção original, tendo o mesmo resultado. 

Outra prática que ocorre constantemente no mercado é o chamado spoofing. Trata-se de ordens falsas que tendem a chamar a atenção de outros investidores. Um player coloca uma ordem, por exemplo, de compra em uma ação que está operando. Quando as agressões vendedoras chegam perto da sua ordem, ele a cancela.

Com isso, dá a impressão de que tem um maior volume de intenção de compra do que realmente possui. Assim, muitas vezes vemos ordens relevantes apregoadas, mas que somem assim que o preço se aproxima delas. Essa prática é ilegal, e a CVM – Comissão de Valores Mobiliários – fiscaliza e pune os que infringem a regra. 

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